Entrevista com Leila Míccolis
Acadêmica Correspondente da Academia Caxambuense de Letras.
A primeira entrevista da Academia Caxambuense de Letras para o Jornal Panorama é Leila Míccolis (Rio de Janeiro, 1947) poeta, ensaísta, romancista, contista, roteirista de cinema e televisão, dramaturga e editora brasileira.[1] Estreia na poesia em 1965 com o livro Gaveta da Solidão, e foi publicada na antologia 26 poetas hoje, em 1975, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda.
Leila é Acadêmica Correspondente da Academia Caxambuense de Letras.
Descendente de gregos e italianos,formou-se em Direito em 1969, pela antiga Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo exercido a profissão de advogada até 1977, quando decidiu dedicar-se exclusivamente à literatura.[1]
Estreou em 1965 com o livro de poemas "Gaveta da Solidão". Em 1983 começou a escrever roteiros para a televisão, vindo a ser co-autora de telenovelas como Kananga do Japão (1989), com Wilson Aguiar Filho (1951-1991), e Barriga de Aluguel (1990), com Glória Perez (1948).[1]
Fundou, em 1991, com o também poeta Urhacy Faustino (1968), seu marido, o jornal literário "Blocos", que ganhou uma versão virtual oito anos depois. Entre 2004 e 2007, fez o Mestrado em Ciência da Literatura (Teoria Literária) na UFRJ.[1] É Doutora também em Ciência da Literatura (Teoria Literária) pela mesma Universidade.[4] Em 2005 ministrou curso de extensão sobre texto televisivo na UFRJ.
É autora de três dezenas de livros (poesia/prosa), novelas de TV, teatro, roteirista de cinema. Tem obras publicadas em países como França, México, Colômbia, Estados Unidos e Portugal.
Tem vários poemas com temática lésbica. Foi ativista no Grupo Auê, no Rio de Janeiro entre 1979 e 1980, tendo chegado a coordenar um pré-EBHO nesta cidade. Participou do "I Concurso de Poesia Gay do Brasil", promovido pelo Grupo Gay da Bahia em 1982, com o poema "Teus Seios". Leila tem 2 pós doutorado
A- Por que você escreve ?
LM – Porque não sei ser feliz sem escrever. É meu jeito de me sentir viva e participativa.
A- A escrita te insere na caverna de Platão ?
LM – Nem na Caverna de Platão, nem nas torres de marfim…
A- Escrever é lucrativo ou só faz bem ao Ego?
LM – Se escritor fosse profissão legalizada no Brasil poderia ser lucrativa financeiramente. Como não é, escrever só é lucrativo no sentido da Constituição brasileira inserir a cultura como um dos Direitos Humanos fundamentais. Ou seja, mesmo sendo um bem imaterial, não deixa de ser um bem, em que ambas as partes — autores e público -— deveriam lucrar com ele. No meu caso, escrever não é um mero extravasar de sentimentos, ou um ato isoladamente egocêntrico: é abrir diálogo, compartilhar espaço. O individual e o coletivo sempre andaram juntos na minha trajetória. Tanto que no nosso site (meu e do Urhacy Faustino), Blocos Online, com 300 mil arquivos e com milhares de autores, devo aparecer em umas 40 páginas apenas. Meu ego fica bem com este tipo de postura, porque escrever é agir; e neste sentido, igual ao poeta Torquato Neto, para mim escrever sempre foi a ponta do iceberg.
A- Você escreve por compulsão ou por necessidade de expressar seus sentimentos, seus pontos de vista?
LM – Nem um nem outro — esta pergunta já foi respondida acima. Porém, vou complementar: nos diários, escrevo para mim; é meu jeito de organizar ideias, de analisar comportamentos, de exercer uma autocrítica feroz e implacável, a fim de me autoconhecer um pouco mais a cada dia. Porém toda literatura (inclusive a autobiográfica) baseia-se em ficção e, neste sentido, as vozes dos meus personagens muitas vezes se sobrepõem ou até abafam a minha.
A- Conte-nos sobre a produção Literária de sua geração, as etapas vividas.
LM – Bem, isso dá um livro, aliás ele já está pronto, tem quase 300 páginas, e estou procurando editora que o publique… (a mesma saga de sempre). Resumindo ao máximo, a Poesia Marginal, não só na época da Ditadura mas até hoje, é uma poesia que questiona todo tipo de repressão em diversas áreas, que combate preconceitos tão enraizados em nós que acabamos sem notar que eles existem e, pior ainda, sem perceber que estamos aceitando e consentindo em sermos manipulados. É uma poesia de impacto, desobediente e transgressora, mas suavizada pela ironia e pelo humor.
A-Você se aproximou do movimento concretista? Se não, por quê?
LM – Na época, eu não conhecia os movimentos poéticos anteriores. Porém na minha visão atual, estou certa de que não me aproximaria, porque a proposta deles era/é bastante diferente da que tínhamos na Geração Poética de 70. De qualquer modo, respeito-os muito, a democracia passa pela polifonia de vozes (vozes diferentes e por vezes contrastantes), que em vez de se anularem entre si, se complementam.
A- De que forma você rotularia sua poesia? O rótulo é necessário?
LM – Não rotulo. No caso da Poesia Marginal, inclusive, acho esta categorização perigosa, dúbia e criada propositadamente para afastar os leitores, porque a maioria deles não sente a menor vontade de conhecer esses tais… marginais… Nunca aceitei esta expressão, que acaba tendo mais significados pejorativos do que positivos; mas, depois de amplamente divulgada, também não dá para se fugir dela. O melhor então é desfazer enganos, explicando que, de início, essa marginalidade dizia respeito à publicações de livrinhos produzidas à margem da editoração tradicional, eles eram mimeografados e vendidos de mão em mão, em lugares públicos, em vez de feitos em gráficas ou através de editoras tradicionais, e depois deixados em consignação em livrarias. Neste primeiro momento, o poeta participava de todas as fases do processo de publicação de seu livro: desde a criação do próprio texto, até a divulgação e venda. Com o passar do tempo, Poesia Marginal passou a designar a vertente poética de maior impacto dos anos 70, a que levava a marca mais visível da desobediência civil.
A-Você só escreve poemas?
LM – Não. Também escrevo contos, prosa, roteiros de televisão (TV Manchete e Globo), crônicas, tenho uma editora e um grande site com Urhacy Faustino, o Blocos Online, um dos pioneiros a divulgar cultura na Web, pesquisas para Enciclopédias, principalmente sobre Poesia Alternativa brasileira, escrevi reportagens, atuo até hoje no jornalismo literário (na Universidade da Flórida/Miami há um setor intitulado: The Leila Miccolis -Brazilian Alternative Press Collection, com meu arquivo de jornais da época da Ditadura militar), e ainda escrevo artigos acadêmicos, pois possuo dois pós-doutorados em Letras /Teoria Literária e Literatura Comparada.
A- Qual é a sua profissão?
LM – Advogada que há muitos anos abandonou 10 anos de profissão para escrever e ler em tempo integral; mas também sou palestrante e professora, dou cursos de poesia e de roteiro de televisão.
A-Brincar com letras faz bem? A quem?
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LM – É um ofício que exige técnica e treino, ainda mais se você transita por várias mídias, cada uma com suas próprias especificidades. Nem sempre é uma brincadeira divertida para quem escreve com prazos, horas marcadas, IBOPES, e 40 páginas por dia (quando se trata, por exemplo, de novelas de televisão); exige resiliência e criatividade; mas para mim é sempre prazeroso, cada desafio me traz descobertas novas, sinto-me privilegiada por lidar o tempo todo com o que gosto, juntando serviço e lazer. Nunca me arrependi de ter tido a coragem de me aventurar pelos caminhos que sigo até hoje, largando uma profissão lucrativa e segura. Há momentos difíceis, como em qualquer área, mas tento me orientar o mais possível em minha vida pelo sábio "conselho" de Rita Lee: "brinque de ser sério, leve a sério a brincadeira".
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Leila Míccolis
Advogada, Doutora e com Pós-doutorado em Teoria Literária e Literatura Comparada (UFRJ),
pós-graduação em Escrita Criativa (EAD); escritora de livros, TV, teatro e cinema
Plataforma Lattes: https://lattes.cnpq.br/0851751388553171
Site pessoal: https://www.blocosonline.com.br/sites_pessoais/sites/lm/index.htm
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