Lua a Pino
LUA A PINO - Autor: Pietro Costa, Editora: E & P, 2021
Resenha por Marcos Fabrício Lopes da Silva*
Em Lua a pino (2021), livro poético de Pietro Costa, a beleza, ou o sentimento, origina-se nos domínios do sensível, esse vasto reino sobre o qual se assenta a existência de todos nós humanos. No entanto, na ausência de um saber sensível e de uma formação estética, pode tornar-se limitada a percepção do sujeito diante de seu entorno. Tendo em vista que a literatura é arte, faz-se necessário observar que o texto literário possui uma função estética. Ao contrário de uma função utilitária, que reduz a obra aos pretextos, a função estética amplia os nossos sentidos e permite a contemplação da obra pelas vias artísticas.
Não compete à literatura apenas descrever a realidade tal como ela se apresenta, seguindo critérios de base documental e registro histórico. Gosto estético, conhecimento lógico e princípios morais a postos, Pietro Costa sugere ricas percepções para celebrar a literatura como "matéria criativa, vagueando com autonomia". Seu fazer poético está relacionado com a transfiguração inventiva da vida. Dedicar as melhores palavras ao que pensamos e sentimos passa pelo exercício literário de oferecer ao público associações inusitadas que ampliam o nosso repertório de existência individual e social. O livro de Pietro Costa é, em sua essência, uma invenção com valor. "Sim, o amor se acha nas dessemelhanças" (Eros e Anteros) - adverte, com sabedoria, o autor de Lua a pino. A graça vital se faz então requisitada na expressão legítima da alteridade. Pietro Costa problematiza a questão em Outrofobia:
"Encontros?/Solidão compartilhada/Lares?/Campos de batalha/Posturas geniosas/Verve autoritária/Nos ombros alheios/Uma ominosa carga/Nos dedos postos em riste/Holocaustos da indiferença/Névoas carregadas de chistes/Olhos trovejando incertezas/O paciente zero da pandemia/O ensejo do caos e desditas/Sempre na outra ponta/Fora das divisas do espelho/Os erros de maior monta". Há um desequilíbrio sistêmico que tenta nos reduzir a seres "extrofiados", revirados para fora, estranhos a nós próprios, como lamentava Kierkegaard (1813-1855), pois nossa autoestima passa a depender do que vem de fora - da gula e da antropofagia visual aos arremedos de fama, fortuna e poder. Não é em vão que os orientais chamam o centro energético do nosso ser, lá onde se situa o coração, de plexo solar. Como "noites com sol", somos celebrados em Lua a pino, de Pietro Costa.